Sentada numa esplanada junto ao rio Spree, na zona do East Side Gallery, deixei a playlist de lado — ouço os sons à minha volta: as vozes das pessoas, o barulho das máquinas de café, o vapor da espuma do leite. É a minha última manhã em Berlim, e voltei ao meu café preferido desde que aqui cheguei — um dos exclusive coffee. A acompanhar o melhor cappuccino da cidade, uma tarte de limão — maravilhosa, diga-se.
Voltei aqui porque me quis despedir deste sítio. Foi o primeiro lugar onde encontrei aquele café perfeito, mesmo debaixo do apartamento a que chamei casa durante os últimos 10 dias.
Vou ter saudades desta cidade? Sim, vou. Levo comigo experiências, histórias, inspirações, um carinho especial por esta cidade que, mesmo com expectativas altas, conseguiu superá-las. Berlim mostrou-me que posso ser eu própria, que posso abraçar a minha identidade e individualidade, e que devo confiar nos meus instintos. Identifico-me profundamente com esta cidade: tão vasta e completa, com tanta energia e história, onde tudo acontece com ritmo... mas, onde tudo acontece com espaço e serenidade.
Berlim é organizada, calma no seu despertar, nostálgica no seu adormecer. Há amor e romance nos pormenores que só se veem com atenção, há bosques que se estendem pela cidade, cerejeiras em flor a pintar as ruas de cor-de-rosa... há cor no preto e branco perfeito.
E não podia ter escolhido melhor cidade para viver o meu primeiro Way Up North — uma conferência de fotografia e vídeo de casamentos. Foram 3 dos 10 dias nesta cidade e, se Berlim já era inspiradora, o Way Up North elevou essa inspiração a um novo patamar.
No primeiro dia participei num style shoot de vídeo num palácio lindíssimo — Schloss Friedrichsfelde, com uma estética clássica. Deixo-vos um pequeno sneak peek no final do post. Nesse dia, fiquei com a sensação de que queria mais. Queria ter tido mais tempo com os modelos, queria ter-me libertado mais, confiar mais nos meus instintos. Só quando cheguei a casa e revi as imagens percebi: estavam “good enough”.
“Good enough” foi precisamente o tema da conferência. E nos dias seguintes, esse conceito fez ainda mais sentido. Aceitar o “good enough” é aproximarmo-nos da autenticidade, é confiar no instinto e aceitar a nossa identidade criativa — sem medo, sem comparações, sem filtros. É dar espaço à evolução.
Durante a conferência, conheci pessoas incríveis. Fotógrafos portugueses que me acolheram como se já nos conhecêssemos, que me fizeram sentir parte de uma família. Pessoas inspiradoras como a Svenja Petersen, cuja história pessoal ressoou comigo. Descobri o trabalho de profissionais como o Samuel Lewis Edwards, que se tornaram referências. A Amie McNee, escritora, fez-me olhar para a inveja, o starstruck e o síndrome do impostor de uma forma mais leve e humana.
Pessoas como o Jeff Chang e os The Caryls partilharam visões tão construtivas sobre como devemos ir além da expectativas e tornar um serviço numa conexão emocional.
Em todos eles senti esse equilíbrio entre o “good enough” e a ambição de crescer — uma tensão entre o medo e a confiança, entre o que somos hoje e o que podemos vir a ser. Um confiar nos instintos, na identidade, no good enough como uma forma de evolução e crescimento, seja profissional como pessoal.
O Way Up North terminou com uma festa, claro — num clube de Berlim. E não podia ter tido um desfecho melhor. Eu, já exausta dos quilómetros percorridos nesta cidade gigante (houve um dia em que fiz 40km de bicicleta!), quase desisti de ir. Mas vesti o meu outfit “COLORFUL AF”, como pedia o dress code da Wooden Banana Party, e lá fui.
Foi nessa noite que a ligação se tornou ainda mais forte. E foi aí que senti, de forma muito viva, o espírito de comunidade que o Way Up North representa.
É assim que me despeço de Berlim: com saudade e nostalgia, mas também com inspiração. Sei que esta cidade e esta experiência me vão continuar a trazer histórias, ideias e crescimento. E como disseram a Shari e o Mike — os últimos oradores do Way Up North: todos os pequenos passos devem ser celebrados, todas as pequenas vitórias merecem a sua pequena festa.
Luck is what happens when preparation meets opportunity.
— Séneca
O Way Up North mostrou-me que não é só em Berlim que posso ser eu própria, mas em qualquer parte do mundo.